Engajamento em Perspectiva

Engajamento é certamente um dos direcionadores de equipes de alto desempenho. A questão latente que se apresenta é sobre seus direcionadores diante de novos tempos, novos vínculos.

Ninguém questiona a relevância do vínculo emocional com os pares, a identidade afetiva com o grupo social, o orgulho em relação ao escopo de atuação, a satisfação com as experiências significativas, o espaço para expressão, a conexão com o propósito inspirador.

Percebe-se que estar engajado é magnífico... mas raro e árduo.

Vale assim uma reflexão além dos pulsos cosméticos capturados por pesquisas...

O trabalho livre apresenta-se basicamente em dois formatos: empreendedor e contratado.

Simples assim.

Mas rebuscado em suas ramificações. Explico-me.

O empreendedorismo apresenta-se tanto no modelo oportunista, como no modelo por necessidade. Enquanto o primeiro inspira, o segundo convoca. Empreender nem sempre é uma opção consciente sobre alocação risco-retorno diante de assimetrias decodificadas e capacidades diferenciadas. Também pode ser a alternativa viável diante da impossibilidade de ofertas de emprego realmente capazes de remunerar adequadamente certos ofícios - assim ocorre, por exemplo, no caso de milhões de profissionais autônomos que poderiam otimizar melhor seu tempo, esforço e capital, caso tivessem mais oportunidades de trabalho atraentes.

Também o vínculo formal de trabalho tem variações diversas. Observam-se vínculos mais operacionais em atividades rotineiras de baixa complexidade, onde a remuneração é quase que diretamente relacionada ao volume de horas alocadas, com reduzido valor do trabalho empregado. Além deles, destacam-se os profissionais do conhecimento e da gestão que são remunerados pela sua capacidade gerencial em realizarem execuções em cenários complexos. Finalmente, existem os especialistas com elevada intensidade em capital humano, remunerados por suas ideias e entregas de alto valor adicionado.

Engajamento significa coisas diferentes para esses públicos diversos acima.

Nota-se total integração do engajamento com outras dimensões de pactuação. Notadamente, alinhamento, coesão e compromisso.

  • Sem dúvida, sentir-se engajado com algo e com alguém também requer alinhamento, referindo-se à clareza no entendimento do contexto, dos papéis e responsabilidades e dos entregáveis esperados.
  • Também requer coesão, ressaltando-se a importância de um ambiente de confiança, colaboração e aprendizagem capaz de fomentar transparência, assertividade, apreciação e conforto.
  • Finalmente requer compromisso, referindo-se à efetiva disponibilidade de energia e tempo para realmente priorizar as agendas pactuadas em diferentes situações e momentos.

Não somos engajados. Estamos engajados. É importante compreender tal sutileza.

Mercenários, por exemplo, são super engajados para a missão combinada contra pagamento definido. E seu demérito aos olhos estranhos de alguns não passa de viés no juízo de valor ao aplicar réguas inadequadas ao contexto do contrato temporário estabelecido entre as partes. É assim até hoje com muitos profissionais liberais contratados para serviços pontuais.

Engajamento incondicional e irrestrito já está ficando fora de moda no universo dos vínculos contratados, justamente pela impossibilidade das próprias empresas em assegurarem algo previsível, estável e atraente no longo prazo para seus colaboradores. Assim o engajamento até pode se apresentar intenso, mas com prazos de renovações de tempos em tempos.

A relação atávica entre objeto e sujeito é mais frequente, naturalmente, no caso de empreendedores natos (inclusive artesãos e artistas) se relacionando com suas obras originais. Mesmo modelos elaborados de partnership podem não ser capazes de emular tal nível avançado de engajamento, sem o apoio de sofisticados instrumentos de remuneração.

Estar engajado é difícil... mas extremamente recompensador para si próprio e para todos aqueles ao seu redor. Ninguém oferece ao outro aquilo que realmente não tem dentro de si.

Nosso desafio em tempos efêmeros tem sido justamente esse: como vivenciar engajamento com laços quebradiços, alvos ambíguos, realidades complexas, encontros fortuitos, ambientes virtuais? Eis um dos maiores desafios de liderança nos tempos atuais.

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Daniel Augusto Motta é Managing Partner e CEO da BMI Blue Management Institute. Doutor em Economia pela USP, Mestre em Economia pela FGV-EAESP e Bacharel em Economia pela USP. É Alumni OPM Harvard Business School. Atua também como Managing Partner da corporate venture capital WhiteFox sediada em San Francisco (EUA), como Senior Tupinambá Maverick na content tech Bossa.etc e com Membro do Conselho de Administração da Afferolab. Também atua como Diretor de Planejamento Estratégico da UNIBES e Membro do Conselho Deliberativo do MASP. Foi Membro-Fundador da Sociedade Brasileira de Finanças. Foi Professor nos MBAs da Fundação Dom Cabral, Insper, FGV, ESPM e PUC-SP. É autor de diversos artigos publicados por Valor Econômico, EXAME, VocêSA e Folha de São Paulo, e também tem três artigos publicados pela Harvard Business Review Brasil. É autor dos livros best-sellers A Liderança Essencial, Anthesis e Data Insights.