O entusiasmo existencial nos faz querer viver e absorver o mundo. Um arrebatamento que nos traz o impulso ativo para levantar da cama todos os dias, ter a vontade de colocar a vida em movimento e realizar. É como a pulsão de vida da teoria psicanalítica de Freud, da origem das atividades mentais, aquela pulsão que nos motiva e convida a sobreviver. Essa centelha que nos move num mundo veloz e, muitas vezes, árido faz uma grande diferença quando pensamos em nosso crescimento profissional, em novos conhecimentos e possibilidades de aprender.
Nossa fome! Fome de viver e de aprender. Quando se refere à fome literal como “uma boa disciplina” no livro Paris É Uma Festa, Ernest Hemingway poetiza que, quando se está com fome, os quadros ficam mais belos e os livros, mais apetitosos de serem devorados. Essa reflexão levanta um ponto crucial: a ânsia pelo novo, pelo frescor, pelo diferente pode nos levar a caminhos jamais transitados.
Nesse contexto, o planejamento orientado às descobertas e à educação da nossa vontade nos leva a um patamar de grandes conexões que nos permite a preparação para o futuro. Ao mesmo tempo, aprendemos e estamos superequipados para um mundo que vai se desfazendo, ou seja, já não existe mais. Que desafio a vida nos apresenta!
Mas, como manter essa sede pelo aprendizado, dentro e fora do ambiente profissional, num cenário em que estamos constantemente apressados? A capacidade de aprender e a vontade que a impulsiona se tornaram imprescindíveis. Além disso, encontrar caminhos que facilitem a aprendizagem, que a torne mais fluida, também é uma ótima alternativa. Um bom exemplo é o microlearning.
Experiências potentes e significativas
O termo microlearning vem ganhando força a cada dia. Com as transformações impulsionadas pela tecnologia e também com as novas gerações, aprender em micromomentos, nos quais a aprendizagem possa ser consumida de forma granularizada, num curto espaço de tempo, é potente! É um modelo de aprendizagem que conecta estímulos diferentes, em prol de uma experiência ou jornada significativa. São experiências bem planejadas, curtas, leves, de fácil absorção e que, combinadas, nos tornam curiosos e construtores de grandes nexos.
O desafio é não cair na armadilha da criação e composição das pílulas com o impulso de reduzir e fragmentar em multiformatos por si só. Assim, a prática perde o brilho e a potência de transformação. Aprendizagem granularizada precisa de intensidade: te faz degustar, querer ficar e voltar. Para que esse modelo faça sentido, o diferencial está na conexão técnica e afetiva do que queremos transmitir e entre as experiências. Ser impactante, fisgar de forma visceral, oferecer conteúdo relevante e experiências marcantes, promover insights poderosos e conexões frutíferas.
A modelagem de ações de desenvolvimento nesse formato no ambiente corporativo e fora dele, em programas de educação continuada, já é uma realidade necessária, muito mais do que apenas uma tendência. Temos um grande desafio ao desenhar programas de desenvolvimento estruturados de curto, médio ou longo prazos. Eles serão grandes diferenciais quando estão amparados a uma arquitetura que impulsiona, em seu desenho, as ímpares e emblemáticas ações. Vale trazer sentimento, afeto, emoção. São fenômenos que assinalam a presença de algo importante ou significante em um determinado momento nas nossas vidas.
Voltando à questão inicial da centelha que nos move, mais um desafio interessante é expandir a visão para momentos valiosos de aprendizagem simplesmente ao mirar nosso entorno. Além de processos estruturados de aprendizagem baseados nessa forma de pensar e consumir, nossa vida é uma sequência de micromomentos de aprendizagem oportunos e insubstituíveis. Resta-nos beber conscientemente dessa fonte. A aprendizagem é um meio para alcançar a liberdade interior e o domínio de si mesmo, de forma prolongada, perseverante.
E você, tem fome de quê? Tem sede de quê?
Daniella Russo é Diretora de Relacionamento com Clientes na Bossa.etc e AfferoLab.