Concentrar-se em uma tarefa requer esforço mental. Isso acontece especialmente com as crianças, cujo sistema de atenção está em desenvolvimento. Para elas, manter a concentração em ambientes de aprendizagem formal é realmente difícil, principalmente para as mais novas. Estudos demonstraram que os pequenos tinham sua atenção diminuída quando as aulas passavam de 10 minutos para 30 minutos.
Nas salas tradicionais de educação infantil, a voz de outros alunos, o amiguinho inquieto, os pôsteres e os desenhos pendurados pelas paredes competem pela atenção das crianças. Enquanto processam informações relevantes, seria importante que elas pudessem manter o foco e ignorar as distrações, que, com o tempo, sobrecarregam os recursos atencionais. O mesmo cenário vale para um ambiente de trabalho: cheio de cubículos, com pessoas ao telefone, celulares tocando, e-mails chegando, ao mesmo tempo em que os profissionais tentam concluir as tarefas que exigem concentração.
Estudos de neuroimagem rastrearam o fluxo sanguíneo cerebral enquanto os participantes faziam um teste que avaliava vigilância e tempo de reação. A pesquisa mostrou que o volume de sangue nas regiões envolvidas com a concentração diminuía após 20 minutos de exercício, o que também estava relacionado com a piora nos tempos de reação. Isso acontece porque quando nos concentramos em uma tarefa, nosso cérebro dedica mais recursos de processamento em áreas que melhoram o desempenho. A fadiga mental é um sinal de que estamos gastando mais energia em relação ao benefício que teremos ao terminar a ação – por isso o cérebro retira os recursos dali. Outras pesquisas comprovaram que as ondas cerebrais relacionadas à fadiga (ondas teta) aumentavam durante os períodos de atenção sustentada, mas diminuíam durante os descansos.
As pausas ajudam a solucionar esse impasse: já está provado que períodos curtos de atividade nos mantêm mais focados em uma tarefa. Os intervalos nos ajudam a melhorar o foco, reduzindo o tédio e restaurando a energia e a motivação para a conclusão do trabalho.
Quebrar a aprendizagem e o trabalho em períodos curtos é melhor do que dedicar-se por um tempo prolongado. Chamado de “Efeito espaçamento”, esse é um dos fenômenos mais replicados na psicologia e na educação, envolvendo desde seres humanos até animais marinhos bastante primitivos.
Fracionar e adicionar um pequeno intervalo entre os blocos de aprendizagem melhoram a retenção do conhecimento, pois nos dá tempo de esquecer. E “esquecer” nos força a evocar a informação – prática que melhora a capacidade de lembrar das coisas no futuro.
Quando estamos acordados, mas devaneando, nós ativamos no cérebro regiões chamadas de “modo padrão” (tradução de default mode). Essa rede é importante para nossas habilidades mais complexas, como a criatividade.
Vários estudos indicam que os intervalos facilitam o insight criativo e a solução de problemas. Em um deles, os pesquisadores descobriram que adultos jovens tinham duas vezes mais chances de encontrar a resposta para um problema matemático se tivessem uma pausa de dez minutos.
Em outro estudo, indivíduos eram solicitados a encontrar usos criativos para objetos comuns do dia a dia. O grupo que teve as melhores e mais criativas ideias foi aquele que, nos intervalos, realizava alguma outra tarefa simples. Os participantes com pior desempenho apenas descansavam ou trabalhavam ininterruptamente. Os indivíduos de melhor desempenho pareciam ter devaneado mais, o que indica ter contribuído para a criatividade.
O desenvolvimento da rede de modo padrão e o cultivo da criatividade requerem tempo e espaço – duas coisas difíceis de se conseguir em nossas rotinas de trabalho. Se nos mantivermos excessiva e constantemente focados em uma tarefa, podemos causar o empobrecimento das redes relacionadas com a criatividade – ou mesmo com a curiosidade de aprender.