Difícil imaginar um mundo sem organizações!
Todas as dimensões de nossas vidas circulam em torno de algum tipo de organização – desde igrejas até governos. E isso é algo positivo para a sociedade. Ao mesmo tempo, difícil visualizar um momento organizacional estável absoluto. As organizações também evoluem naturalmente – por vezes, com sobressaltos – em busca de sobrevivência e relevância.
Um pouco mais de ordem (Coordenação)
Organizações – em especial, empresas privadas – são importantes porque criam mecanismos de gestão e estruturas capazes de processar informações e coordenar diversos agentes econômicos em escala. Diante de contextos caóticos e hostis, a capacidade de coordenação organizacional apresenta-se como grande diferencial.
É fato que, ao longo do tempo, diferentes modelos de coordenação foram implementados e aperfeiçoados. Outros foram descartados. No atual momento, as agendas de reconfiguração organizacional desafiam também esse aspecto primordial: como otimizar a capacidade de coordenação das empresas?
São inúmeras as transformações no contexto contemporâneo. Todas elas combinam-se como desafios à capacidade de coordenação organizacional.
Mais com menos, sempre (Eficiência)
Um verdadeiro nexus de contratos. Assim pode ser definida uma organização na visão acadêmica dos economistas. Com o objetivo de coordenar inúmeras atividades executadas por diversos agentes, uma organização gerencia infindáveis transações, cada uma delas com seus respectivos custos.
Assim, minimizar custos de transação significa maximizar eficiência organizacional. Os custos de transação agrupam o próprio ônus de coordenação das atividades produtivas e o seu sistema de monitoramento, e também a observância dos direitos de propriedade e a negociação de contratos.
A complexidade organizacional, portanto, não apenas se relaciona com a própria incerteza e hostilidade das condições externas, mas pela própria dinâmica dos contratos subjacentes à existência de um empreendimento. A busca da eficiência, portanto, é uma jornada sem ponto de chegada.
Tecnologia, processos, sistemas, pessoas e instalações podem ser otimizados em suas combinações de modo a maximizar a realização produtiva em relação ao capital empregado. Uma vez que o contexto externo está constantemente em transformação, a maximização de eficiência é sempre um novo desafio. Em particular, no atual contexto de transformações, não apenas novos paradigmas produtivos e novos modelos operacionais, mas também novos patamares de desempenho estão sendo desbravados.
Um algo a mais (Bem-Estar)
É fato que uma organização não existe apenas para maximizar sua própria geração de resultado. Está sempre rodeada de múltiplos stakeholders, com suas diversas agendas de interesses, diferentes poderes de barganha e redes de influência. É justamente essa tensão de forças que define o potencial retorno sobre capital empregado ajustado ao nível de risco de um empreendimento.
Pode-se argumentar que a própria existência de uma organização é, de certo modo, uma concessão da sociedade em prol do seu bem-estar. No caso de um empreendimento privado, por exemplo, o sistema de preços e o custo de capital definem a sua própria viabilidade financeira.
As organizações, portanto, existem para otimizar o bem-estar social dos stakeholders ao seu redor. E, por isso mesmo, desdobram-se em maximizar o retorno financeiro na perpetuidade para seus acionistas, proporcionar ambiente de trabalho favorável aos seus colaboradores, encantar seus clientes, consolidar sua cadeia de valor, atender às expectativas gerais da sociedade.
O vocabulário contemporâneo tem destacado termos como ESG, Diversidade e Inclusão, Stakeholders, Centralidade do Cliente e Impacto. Esses e outros conceitos não são inéditos. Apenas têm tracionado sua relevância na agenda organizacional inserida nesse dinâmico campo de forças.
Faces da mesma moeda (Ambição e Potência)
Coordenação. Eficiência. Bem-Estar.
São essas as funções primordiais das organizações. A partir desse tripé essencial, a ambição é desenhada, combinando propósito, visão e estratégia. A estratégia aqui compreendida como a integração entre posicionamento, modelo de negócios e diretrizes. Mas toda ambição requer realização.
O nível de potência organizacional refere-se à crítica convergência entre cultura, desenho e capacidades. Assim, o sucesso empresarial está justamente no ajuste exato entre ambição e potência. Algo difícil de se concretizar, tanto pelos sucessivos desafios externos que continuamente impactam as diferentes camadas, como pelas idiossincrasias internas que impedem o perfeito alinhamento das alavancas de potência.
A constante reconfiguração organizacional ocorre em ambição e na potência. Desde o propósito até as próprias capacidades. Tudo está xeque diante de movimentos de transformação.
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Daniel Augusto Motta é Managing Partner e CEO da BMI Blue Management Institute. Doutor em Economia pela USP, Mestre em Economia pela FGV-EAESP e Bacharel em Economia pela USP. É Alumni OPM Harvard Business School. Atua também como Managing Partner da corporate venture capital WhiteFox sediada em San Francisco (EUA), como Senior Tupinambá Maverick na content tech Bossa.etc e com Membro do Conselho de Administração da Afferolab. Também atua como Diretor de Planejamento Estratégico da UNIBES e Membro do Conselho Deliberativo do MASP. Foi Membro-Fundador da Sociedade Brasileira de Finanças. Foi Professor nos MBAs da Fundação Dom Cabral, Insper, FGV, ESPM e PUC-SP. É autor de diversos artigos publicados por Valor Econômico, EXAME, VocêSA e Folha de São Paulo, e também tem três artigos publicados pela Harvard Business Review Brasil. É autor dos livros best-sellers A Liderança Essencial, Anthesis e Data Insights.