Biotecnologia, metaverso, internet das coisas, longevidade... são inúmeros os estudos e análises que mostram – até certo ponto, em detalhes – o que o futuro nos reserva. O indivíduo que viverá até os 150 anos já nasceu, dizem alguns analistas. Até ontem, a vida com 100 anos era a grande novidade.
O certo é que estamos ficando melhores em prever o futuro. As análises descrevem cenários cada vez mais distantes com expressiva lógica. Mas, se ainda não conseguimos fabricar tecidos que substituem nossos órgãos doentes ou viver experiências hiper-realistas sem o auxílio de (ainda incômodos) wearables, o que fazer com o hiato da espera? Ficam claras as vantagens que ganhamos com a mudança de paradigma que fez o mundo analógico-mecânico se transformar no mundo digital-inteligente, mas a complexidade da transição domina o momento atual e, provavelmente, veio para ficar.
Somos uma geração híbrida, ainda não 100% nativa-digital, lidando com a convivência entre o antigo e o novo de forma nunca experimentada. Precisamos lidar com aspectos bem mais desafiadores do que os nossos antepassados lidaram nos últimos séculos. É provável que tenha sido mais palatável para a sociedade assimilar a invenção da imprensa de Gutenberg, a Revolução Industrial, o amor livre, o rock’n roll ou mesmo ver o homem pisar na lua do que lidar com os desafios propostos pelo contexto virtual dos últimos trinta anos.
Somos nós que prepararemos os fundamentos para os que seguirão vivendo intimamente com a complexidade do mundo pós-revolução digital – que, já sabemos, só se intensificará daqui em diante. Somos a geração que terá que aprender a preservar a saúde mental e a capacidade de se adaptar para produzir e seguir em frente.
Essa tal complexidade é a vilã que vem, entre outras coisas, paralisando as mentes de muitos de nós, certos de que não daremos conta. A cura para o medo que nos engessa não está, obviamente, na luta para encontrar um antídoto, mas sim em preservar a nossa humanidade.
Preservar os aspectos que nos definem como humanos parece ser unanimidade na lista das tarefas que elencamos como as mais importantes para os próximos dez anos. Resta saber se estamos assumindo esta responsabilidade de fato. Enquanto o futuro da biotecnologia e do metaverso não chega, precisamos praticar, difundir, sedimentar as capacidades humanas que nos permitem lidar com a complexidade que se instalou e que, para prosseguirmos, é condição sine qua non.
Somos a geração responsável por deixar o legado da criação de vínculos reais e significativos no mundo onde a inteligência artificial assumiu nomes próprios e tomou formas humanas para criar (ou seria emular?) vínculos conosco. A geração que precisa, de uma vez por todas, validar o contato humano como aspecto fundamental para a colaboração e geração de novas ideias.
A geração atual é a responsável por garantir que a interação high touch não seja de todo perdida e a ampliação dos mapas mentais possibilite o relacionamento em rede, com diversidade, além do desenvolvimento de outras capacidades intrinsecamente humanas. Somos nós, os híbridos, que devemos não só preservar essas características, mas levantar a urgência de desenvolvê-las. Somos os que daremos o exemplo ao usarmos os nossos recursos mais primitivos, porém, não pouco sofisticados, para superarmos o medo paralisante, ampliarmos a consciência e abraçarmos o diferente.