Duas coisas impulsionam as ações humanas: necessidades (comida, sono, evitar dores) e recompensas. Qualquer objeto, evento ou atividade pode ser entendido como uma recompensa se nos motivar, proporcionar aprendizagem ou provocar sentimentos prazerosos. No nosso cérebro, o Sistema deRecompensa é formado pela conexão de algumas áreas específicas (veja imagem) e são elas as responsáveis por calcular o valor de uma retribuição e traduzir essa experiência em ação.
As regiões do cérebro relacionadas com o sistema de recompensa utilizam o neurotransmissor dopamina para se comunicarem. Neurônios dopaminérgicos, como são chamados, na área tegmental ventral (VTA) se comunicam com neurônios no núcleo acumbens para avaliar as recompensas e nos motivarem para que as obtenhamos.
A dopamina é o neurotransmissor responsável pela comunicação entre neurônios de diferentes áreas cerebrais implicadas no processo de recompensa. Neurônios na área tegmental ventral (VTA) falam com as células presentes na região acumbens, para processar os pagamentos e motivar os comportamentos. A liberação de dopamina por essas células está relaciona à nossa expectativa por receber algo em troca por uma ação.A dopamina também é responsável pela consolidação de memórias relacionadas às recompensas, fortalecendo sinapses no hipocampo, área do cérebro considerada o centro da aprendizagem e da memória.A sinalização dopaminérgica (a comunicação neuronal por meio deste neurotransmissor) em áreas do cérebro que processam emoções (a amígdala) e regiões envolvidas em planejamento e raciocínio (o córtex pré-frontal) também associa experiências emocionais às recompensas.
Não é a recompensa em sique influencia nossas emoções e a criação de memórias, mas, sim, a expectativa de conseguir as retribuições. A aprendizagem recompensadora está ligada à vivência de algo inesperado – quando o prêmio difere daquilo que havíamos imaginado. Se o ganho é maior do que o esperado, ele aumenta o fluxo de dopamina. Se é menor, diminui.Em contrapartida, prever exatamente o pagamento não altera a sinalização dopaminérgica, porque não estamos aprendendo nada novo.
A resposta dopaminérgica muda de pessoa para pessoa. O cérebro de algumas responde mais fortemente às recompensas do que às punições, enquanto outros são mais afetados pelos castigos.Aprendizagem recompensada e motivação são influenciadas pela amigdala, a área do cérebro envolvida no processamento das emoções. Pesquisadores da Universidade de Vanderbilt, nosEstados Unidos, descobriram ainda que indivíduos mais engajados e essencialmente motivados possuem maior sinalização dopaminérgica nas áreas do estriado e do córtex pré-frontal (duas regiões que afetam a motivação e a recompensa).
Logo, a dopamina é vital para estabelecermos associações estímulo-recompensa e resposta-recompensa.
Toda vez que tomamos uma decisão, ativamos o processo de avaliação de riscos e de recompensas. Neurocientistas têm investigado como o cérebro equilibra esses fatores, e como o estado emocional de alguém afeta esse equilíbrio. Decisões centradas nas emoções mudam com a idade – possivelmente porque o córtex pré-frontal lateral, responsável pela autorregulação, amadurece gradualmente. Adolescentes podem ter comportamentos mais arriscados porque seus cérebros ainda estão amadurecendo e eles desejam serem aceitos pelos seus pares. Adultos mais velhos também podem tomar decisões de maior risco, uma vez que as funções pré-frontais diminuem com os anos.O sistema de recompensa reforça comportamentos associados com o ganho e previne os que levam a punições. Em alguns quadros psiquiátricos, esse processo não funciona bem. Por exemplo, a habênula lateral (uma das maiores estruturas do sistema de recompensa) codifica as punições, inibindo a liberação de dopamina. Transtornos envolvendo agressividade têm sido ligadas a disfunções nessa área. Além disso, estimular algumas regiões da amigdala pode desencadear raiva e agressividade, enquanto a remoção de secções específicas da amigdala tornará animais de laboratório mais dóceis. Estudos recentes em animais também indicam que a agressividade pode resultar de ativações inapropriadas do sistema de recompensa em resposta a estímulos sociais violentos. Compreender esse mecanismo é importante para administrarmos nossa rotina de aprendizado. Pequenos mimos, conforme avançamos em um estudo, já vão contribuir com a produção de dopamina. E, no fim, o conhecimento adquirido será nosso maior presente.
Marina von Zuben é Neurocientista docente e pesquisadora do Hospital das Clínicas da USP, e Chief of Neuroscience and Learning da Bossa.etc